domingo, 30 de novembro de 2008

A Terceira Sinfonia de J.Brahms



Andersen Viana

Brahms em sua terceira sinfonia consegue utilizar materiais sonoros aparentemente antagônicos, de forma interdependentemente intrínseca, subliminarmente retirando seus diversos materiais uns dos outros, e, neste caso, de movimentos. Como pode ser observado acima, o arpejo sobre o I grau da tônica, fornece elementos suficientes para que se encontre um elo de ligação entre os dois temas principais. A oposição de elementos contrastantes, dinâmicos, articulativos e tonais resultantes, remonta a uma narrativa que poderia ser comparada com o Pai e filho, Sansão e Dalila ou outra forma simbólica, o que não necessariamente resulta em um ganho na forma analítica.
A aparente distancia entre os movimentos I e IV, fazem com que o esquema sutil que Brahms encontra para uma re-reelaboracao do tema inicial da sinfonia torne-se visível apenas através de uma minuciosa analise e reflexão da estrutura intrínseca da obra. Utilizando a retrogradação, o compositor estrutura o tema em compasso binário, e apenas das duas notas (C e F) seguindo em seqüência normal (A e G), finalmente encontrando o C (que esta no tema A oitava acima). Obviamente a relação de transposição define as notas.

Outra sutileza Brahmsiana. O segundo motivo de A, aparece transposto no tema C do segundo movimento. A seqüência descendente, guardando o relativo distanciamento das tonalidades, foi mantida idêntica, interpolada pela nota E. Este tema aparece feminilizado em contraposição ao tema heróico, símbolo do Pai segundo MacClary. Sob o ponto de vista formal Agawu nos remete ao pensamento de analise estrutural ao qual estes dois temas poderiam se relacionar, fragmentando dessa forma, a proposta de McClary. De uma maneira mais próxima, o compositor relaciona ritmicamente, e por movimento contrario, a ultima célula do tema A, com o tema lírico subseqüente nomeado por McClary de possuir um caráter "Feminino".

Ainda através das células de B do Mov. I, o compositor engendra a utilização do movimento ascendente, mantendo a relação entre os modos menor e o maior. Guardadas as devidas proporções, Brahms usa o movimento asc. como forma para se criar um dos mais belos trechos musicais da historia. O duplamente "feminino" de McClary surge de forma derivativa (Tema B do Mov.I = Tema A do Mov. III), fortalecendo os parâmetros que conduzem a uma reflexão extra-musical do mito edipiano ou como a personagem Dalila, apontando para um exotismo oriental no Mov. I com ritmos cambaleantes e a extrema sensualidade do Mov. III.

Uma narrativa literária a partir da música absoluta, poderia ter um caráter particularmente subjetivo, sem, contudo deixar de fornecer elementos importantíssimos para a construção ou reforço dos aspectos culturais inerentes ao momento histórico de gerações as quais foi proporcionado a oportunidade de fruir da sensação de heroísmo, aventura, conflito, conquista e até de pessimismo tão em voga no fin de siécle. O motivo feérico - análogo ao heróico do Mov. I - do quarto movimento, surge uma reafirmação do "masculino" para citar McClary, ao mesmo tempo que formalmente tem-se uma utilização motívica ipisis litteris do sujeito - ou seja, do uso das mesmas notas dentro de uma mesma tonalidade, fazendo com que o argumento de McClary possa ser contestado a partir de uma análise formal e estrutural dos dois temas elencados acima.

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